9 de set. de 2008

Naquele Lugar

A imagem de um bairro, às vezes, não é enxergada com exatidão. Coisa difícil, ou tão simples, por isto mesmo complicado de se perceber. Certos lugares por terem ainda alma de vilarejo dado à distância dos pulsantes centros urbanos, tomam ares e jeito de comunidades atemporais. No caso deste bairro não é diferente. Hábitos, costumes e conversas são particularidades tão intimas de seus moradores e expressa meio que de forma coletiva, embora involuntária.

Senhores aposentados, desempregados e trabalhadores escolhem seus lugares preferidos para se agruparem e falarem sobre os assuntos cotidianos, futebol, governo ou mesmo da vida alheia, com bom humor, sarcasmos e inventividades tão quixotescas, que ruborizaria Cervantes. Senhoras e moças tomam pra si suas famílias, provindo-as de lazer, prazer e necessidades obtidas em quitandas, vendas e mercados. Esperando zelosas a volta do amado da jornada do trabalho e se entretendo com os filhos, amigas, trabalhos e conversas também cheia de vida e casos.

Com os jovens não é diferente, crescem em turmas que disputam espaços, prestígios e namoricos, para sentirem as emoções e experiências tão íntimas deste momento. Quando se tem doze anos têm-se muitas dúvidas e apenas uma certeza. A de sentir inserido e aceito pelos colegas. Difícil, quando se é acanhado, pouco medroso e inseguro, torna-se uma odisséia a este jovem ninguém.

Naquele tempo, neste vilarejo distante, diversão era algo próximo a viver de bobeira. Procurar cousas na rua e aventuras que enforquem o tédio diante ao nada. Os meninos mais bacanas lideravam turmas em brigas de pipas, gude e também quando desafiados de punhos. Outras vezes procuravam as moças mais feitas que jogando amarelinhas ou pique esconde ainda eram inocentes, aos olhares carnívoros dos mais moçoilos. Após os estudos tinham uma eternidade de tempo para saciarem as vontades das descobertas do bairro, invadindo as ruas de baixo, sacaneando os quitandeiros ou mesmo namorando escondidos com beijos desajeitados, sem língua ainda, devido ao nojo. Meninas sem a presença das zelosas mães que as proibiam de brincar com os moleques travessos, longe delas eram pequenas sapecas que armavam jogos de disputas de prestigio e excitações com os meninos populares.

Eis que chega o Circo. Grande novidade para o pacato local, onde todos poderiam ser reunidos de uma só vez, os meninos das ruas abaixo, as meninas vistosas, os das turmas descoladas e o jovem ninguém. Que não tirava os olhos de uma menininha toda descolada, nas roupas e nos gestos, com o cabelo da moda, ainda que de muito insistido de pedir para sua mãe deixar cortar o cabelo como o da moça gringa que dançava despudorada e vestia roupas loucas com crucifixos e batons vermelhos numa festa destas pessoas da música.

Claudia era uma jovem avançada com idéias, atos e jogos sedutores para uma garota de 13 anos. Embora o jovem ninguém, tímido, mas também com idéias pra frente, só se furtasse à coragem de realizar estas vontades, pouco ou nada sabia destas mini pin-up, apenas Claudia que era sussurrado no seu íntimo.



No circo todas sessões das três começavam sempre às 15:30 em ponto. Muita músicas era tocada para distrair. Aha ha uhu, todos dançando e flertando. Procurando novidades no picadeiro de madeira, que rangia ao balanço dos passos, mais não caia. Um palhaço dito Biruta comandava o picadeiro com shows de teatro de arena, terror Mojicano e cambalhotas arquitetadas para deixar a novela de revista mais interessante: - Biruta e a Múmia de Toth Amon; Biruta contra o fantasma e demais espetáculos eram anunciados. Todos adoravam. Mas a grande diversão mesmo era se acotovelarem meninos e meninas, nos palanques com recados ao pé do ouvido e pedidos de encontros na saída do espetáculo.

Uma, duas, várias vezes iam aos shows que o palhaço biruta artisticamente repetia nas sessões. E, uma, duas ou mais paqueras eram arranjadas dentre a entrada e a saída das atrações. O jovem Ninguém sempre que dava e por contatos, descobria quando Claudia ia ao circo então arranjavam seus meios de desviar da ausência de notas em sua carteira e ia ao encontro dela.

Ao menos para o encontro visual.

O cotovelo de Claudia parecia seda ao encostar "sem querer" no braço no menino, Que via aquelas pernas roliças saídas da pequena mini-saia, ombros firmes a mostra na camiseta de gola cortada, mostrando o inicio dos jovens bustos pêra que a bela cultivava. Seus olhos castanhos minimante puxados e cabelos pouquinho enrolados ainda que todo retalhado como a moça cantora da tevê.

Faltava a coragem do convite ao ouvido como faziam os mais bacanas, faltava a imposição de falar a ela que aos seus dozes. Quase treze, ela era a mulher-menina da sua existência. Gaguejava ao pensar em buscá-la no portal da escola, na saída, trazendo o seu caderno com figuras do Snoop e bolsa transparente combinando com a sandália, com folhas de recados dentro da pasta presa em um dos seus ombros, enquanto o outro terminava combinatória com a mão dada a ela para levá-la pra casa. Pensava nos Sábados em que a mãe lhe dava os cincos cruzeiros para o lanche na quermesse de logo mais, que seria ao seu lado. Orgulhoso de sua conquista esnobando os meninos da rua de baixo que sempre cortavam, na mão, seus pipas custosamente feitos com as colas de madeira do pé já gasto da arvore escondida no matagal atrás de sua casa.

Mas apenas pensava.

O Circo iria embora dentro de três dias era preciso fazer algo, elaborar uma forma de ficar sozinho com Claudia, para mesmo que gaguejando falar o pensava e sentia por ela. Como fazer ?
A quem pedir auxilio, como conseguir mais dinheiro, já que a mãe pouco dinheiro tinha para dar-lhes a mais sessões de espetáculos.
Primeiro dos últimos dias do Circo

Continua...

Neto lima
imeiodoneto@yahoo.com.br

1 comentários:

Rodrigo Miranda disse...

Onírico e nostalgico. Gostei do estilo, apesar de achar que ficaria melhor como um conto fechado, ou melhor colocando, ficaria melhor se já estivesse o conto completo.

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