15 de ago. de 2008

Anônimo

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Meu nome é C.M.F e do meu pai nada sei, não o conheci, quando minha mãe ficou grávida o vagabundo sumiu no mundo.
Ela era nova e idiota, viva em baladas, não queria saber de trabalho, a avó vivia pegando no seu pé, queria que tomasse jeito, se não ia mandá-la embora.
Ela dava risada e saia debochando da velha.
Enfim, nasci e alguns anos depois a velha morreu não tinha deixado nada de valor, apenas o barraco em que morávamos na favela.
Uma amiga da minha mãe veio morar com a gente, daquelas que se conhece em festas nos botecos. A amiga era uma puta, que tinha ponto no calçadão e como não tínhamos grana e minha mãe foi parar nesta vida.
Ser um verdadeiro filho da puta é conviver com homens estranhos todos os dias. Escutar coisas que a inocência infantil não permite saber.
Ela vivia gritando comigo mesmo quando não estava bêbada, me batendo por qualquer coisa. Dizia sempre que a vida dela poderia ser melhor sem mim, mas nunca teve coragem para me abandonar
Preostituta! Bêbada! Vivia suas aventuras em boates, apanhando de gigolôs, e por fim viciada, este último, um presente da tal amiga।
Namorava os traficantes da favela para poder cheirar ao preço de uma trepada.
Um dia, quando estava com uns 11 anos, um dos “namorados” dela apareceu lá no barraco. Tinha consumido do seu próprio veneno, seus olhos esbugalhados, seu hálito de cachaça, gritavam com minha mãe, algo como estar dando para um frente de outra boca. Dizia que ia matá-la por andar com um inimigo, ela mandando-o se foder. Eu estava assustado, tremia, foi ai que a coisa aconteceu, o filho da puta começou a bater na minha mãe, ela gritando palavrões e se defendendo como podia, e numa dessas acertou na cara do desgraçado, um puta arranhão, ele deu uma porrada na cara dela, sem dizer mais nada sacou o revolver e diante dos meus olhos, descarregou na cara da minha mãe.
Gritei descontroladamente, ele apontou a arma para mim e apertou o gatilho, sem munição, clic.
Sem pensar fugi através das tábuas soltas do barraco, e corri, corri até não conseguir respirar, e então corri de novo. Quando parei já nem sabia mais onde estava.
Passei alguns dias perambulando pela rua, passando frio e fome, pedindo para estranhos o que comer, às vezes recebendo, outras sendo enxotado como a um vira latas.
Não demorou muito para ser apanhado pela polícia numa operação pela cidade. O Papa viria finalmente visitar o Brasil, e os governos estavam escondendo os dejetos.
Fui jogado num “abrigo para menores”, e esquecido por lá.
Logo na primeira semana fui espancado, fui escarrado e diversas vezes violentado, tudo isso assistido pelos merdas dos monitores.
E nesta escola aprendi o que é o verdadeiro ódio pelas pessoas, afinal o que eu tinha feito por merecer isso?
Nunca recebi nada, e o que tinha me foi tirado, enquanto outros tinham tudo.
Numa noite o pedófilo de plantão entrou no alojamento para suas práticas habituais, mas desta vez encontrou um pedaço de vidro em sua barriga. O filho da puta morreu com as tripas pra fora, sem sabem quem o atingiu.
Naquela mesma noite fugimos, e mais uma vez estava na rua.
Fui preso mais algumas vezes e fugia sempre que podia, mas num desses retornos conheci uns caras mais experientes, com idéias mais ousadas. O lance era assaltar posto de gasolina e loja de conveniência, e claro, fui junto. Tinha 17 anos.
Primeiro assalto, bom dinheiro, ninguém reagiu, mas nos próximos ia ficar mais fácil render os cuzões com os ferros na mão.
Na fita seguinte, ouve tiroteio. Policia. Televisão.

Penso hoje em como poderia ser minha vida, se minha mãe tivesse mais amor por mim, se ela tivesse coragem para encarar um trabalho mesmo sem ganhar muito com um mínimo de dignidade, se o nosso governo direcionasse aqueles que não têm direção, se a sociedade se preocupasse com a dignidade humana e fizesse voz para mudar o sistema, ao invés de simplesmente culpar este ou aquele governante.
Eu poderia ser um pai que não tive, ser cidadão do bem, trabalhador, esposo amado.

Poderia ser tudo, poderia até ter tudo, se não fosse agora pelo meu sangue escorrendo pela valeta, eu queria poder fazer........................................................

उमा Realidade ficcional

Por Marco Antonio

macbastian@gmail.com

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1 comentários:

Unknown disse...

Escrever talvez seja o ato mais imoral e sujo que alguém possa cometer, pois escrevendo há sempre a possibilidade de se entrar na intimidade e no subconcinte de muitos de uma só vez através de palavras. Violando os antos mais escondidos de cada leitor; Apanhando lembranças , levantando cadáveres, fazendo sofrer e as vezes indignando.
Porém, penso cá comigo, que o ato de se empenhar na escrita é também um ato de amor, digno da mais alta pompa. Podendo traduzir, desta forma, tudo o que há de mais belo e singelo no ser humano. Trazendo vida para corações que batem desalentados e soltos; lvando esperança e conhecimento. Mas acima de tudo, seja uma forma de enfrentamento do mundo. Acredito que a vontade de escrever seja uma das muitas traduções - para muitos - do que seja a vida, assim mesmo, pura e simplesmente. Então meus amigos, não lhes resta nada mais a fazer, neste universo aberto por vocês, além de escrever e escrever e escrever.

Parabéns pela iniciativa

Ass: Pézinho

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